Laços de palavras | Entrevista com Yara Fers

Yara Fers vive de sua escrita, da venda de livros e ministrando oficinas poéticas. Publicou os livros Sádica sílaba (Editora Patuá, 2021), Desmecanismos (independente, 2021), Haicactos e mandacarus (independente, 2022), Meio magma, meio magnólia (Editora Penalux, 2022). Seu primeiro romance acaba de sair, concorrendo ao 7º Prêmio Kindle: Anatomia de um quase corpo. Foi premiada em concursos literários, entre eles o 3° Lugar Prêmio Off Flip 2022, 4° lugar Concurso Tâmaras 2021, e 5º lugar Prêmio Barueri de Literatura 2021. É feminista, revolucionária e vegetariana. Gosta de gatos, de morar perto do mar e de guardar flores em livros.

Para ela, escritora não é um ser abençoado com dons divinos ou genialidades. E a escrita, segundo Yara Fers, pode nos salvar de várias maneiras, sendo grito ou pausa.



O que a escrita causa em você?

Muitas vezes traz alívio, quando escrevo sobre algumas dores e raivas. Também traz refúgio diante da realidade dura. Ela me salva sempre.

Qual a maior aventura de uma escritora?

Criar laços com centenas de pessoas desconhecidas por meio de nossa escrita. Encontrar o fundo de suas almas, ainda que nunca tenhamos visto pessoalmente essas pessoas leitoras.

Que livro você gostaria de ter escrito?

Grande sertão: Veredas.

Que livro você jamais escreveria?

Não escreveria livros que defendessem ideologias fascistas e preconceituosas. Como ghost writer, eu já escrevi até livros técnicos sobre assuntos que não tenho afinidade. Mas certamente não faria nenhum que me ferisse ideologicamente.

O que ainda falta ser dito em literatura?

Muitas vozes foram caladas por muito tempo na literatura. Vozes mulheres, indígenas, negras, LGBTQIA+. Vozes que são silenciadas em diversas outras áreas e também na literatura. Elas estão rompendo barreiras, mas ainda há muito espaço a ser conquistado. Essas vozes têm muitas histórias a contar.

Livro bom é…

aquele que faz o mundo parar por um instante seu movimento habitual e nos transporta para seu universo, para dentro de suas personagens, seus versos, suas histórias. Que nos faz estar dentro dele e fora do mundo real, ainda que o mundo lá dentro também traga parte de uma realidade.

Escritora é uma criatura…

como todas as outras. Não somos abençoados com dons divinos ou genialidades. Pessoas em todo o planeta sonham para si coisas incríveis, o nosso sonho passa pela escrita. Apenas isso.

Qual o papel de uma escritora na sociedade?

Acredito que podemos ajudar a transformar o mundo. Livros e palavras tocam as pessoas, causam empatia, trazem alívio, reflexão, mudam opiniões. Alguns livros já foram considerados subversivos, perigosos, proibidos, porque têm esse poder. Ou pode ser que um livro apenas melhore o dia de alguém. E isso já é uma pequena transformação.

Qual o maior aliado de uma escritora?

Outras escritoras. Eu não caminho só, participo de coletivos de escritoras, apoio e sou apoiada por muitas que estão comigo nessa caminhada. Isso faz toda a diferença.

Como encontrar a palavra certa, o termo justo, a frase ideal?

Ler é essencial para adquirir vocabulário e referências. Isso ajuda muito. Mas cada palavra ou frase também precisa ser pensada, lapidada, testada. Cada poema que escrevo passa por tudo isso, trocas, testes, reconstruções no papel. O caderno é oficina constante. E quando, mesmo após tanto trabalho, não se encontra a palavra certa, na poesia temos ainda a ousadia e permissão de criá-la. 

Existe algo que não dá para ser dito com palavras?

Se houver, criaremos as palavras necessárias para dizer.

Se você pudesse, o que diria para o algoritmo?

Desmatematifique-se. Poesifique-se.

E se você pudesse mudar o lema da bandeira nacional para um que representasse o Brasil atual, para qual seria?

Você não vai querer essas palavras. Não há palavras bonitas para o Brasil atual. Ainda vamos reescrever a história e as palavras que a representam.

Qual a sua maior alegria ao escrever?

Conectar-me com o mais profundo das pessoas.

Se você não pudesse mais escrever, o que faria?

Não consigo imaginar minha vida sem a escrita e sem a arte. Seria um imenso vazio.

A literatura em uma palavra.

Laços.

Qual a coisa mais importante que você aprendeu com a escrita?

Que a escrita pode ser grito e pode ser pausa. Ela nos salva de muitas maneiras.

O que faz você continuar escrevendo?

Cada pessoa que lê o que eu escrevo e aquilo traz algo de novo em sua vida.


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