Entre técnica e sentimento | Entrevista com CA Ribeiro Neto

CA Ribeiro Neto (@caribeironeto) tem mais de 15 anos de literatura, indo em todos os passos possíveis na cadeia do livro, destacando-se as publicações, em 2012, do seu primeiro livro, impresso, Meio Humano, Meio Urbano e, em 2020, do segundo, digital, Como é Triste um Choro Contido [linktr.ee/caribeironeto]; o Grupo Eufonia de Literatura; a revista literária virtual Vem-vértebras; e a Editora Et Cetera. Atualmente cursa o Mestrado em Humanidades Digitais, pela Universidade do Minho.

Para ele, um livro bom se mede pelo que ele mesmo chama de putaquepariômetro. E ele escreve pela satisfação pessoal e coletiva, pois tem “pavor de texto engavetado”.



O que a escrita causa em você?

Sentimento. Isso, para mim, deveria ser o objetivo das artes e isso inclui a literatura. As técnicas são importantes, diria até essenciais, mas como meio, não como finalidade. Enquanto a busca pelo sentimento, ao meu modo de ver, deve ser a busca, enquanto escritor, e o que o leitor almeja. Então, o que há de mais encantador também é quando o leitor é acometido de um sentimento que ele não estava esperando daquele livro. O primeiro choro vindo de uma leitura a gente nunca esquece.

Qual a maior aventura de um escritor?

Não sei se todos os escritores se arriscam assim, como eu, nesta aventura, mas eu corro o perigo de imaginar histórias de pessoas e coisas das quais não saberei, de fato, a verdade. O agravante é que, dependendo do imaginado, posso tratar a minha versão como a realidade mais óbvia.

Que livro você gostaria de ter escrito?

Vou tomar a liberdade de desvirtuar um pouco essa pergunta. Eu gostaria de LER um livro escrito com o que eu sonho e esqueço. O livro seria escrito por mim? Sim, pois foi eu que sonhei, mas verbalizado por alguma máquina que conseguisse extrair meu sonho antes que eu o esquecesse.

Que livro você jamais escreveria?

O que sonhei e esqueci.

O que ainda falta ser dito em literatura?

O que ainda não foi inventado, criado, percebido, entendido. Acredito que, diante das limitações humanas, tudo já foi dito e tudo merece ser repetido.

Livro bom é…

Já falei diversas vezes sobre o putaquepariômetro: sabemos se o livro é bom de acordo com quantas vezes paramos a leitura para refletir sobre o que foi lido. Tem unidade de medida, mas extremamente pessoal. Um mesmo livro é medido diferentemente por cada leitor. E a graça da coisa está aí.

Escritor é uma criatura…

É um ser solitário, que quase sempre exerce seu ofício [escrever] e seu prazer [ler] sozinho. Isso faz dele uma criatura difícil de ser estudada pelos biólogos. Porém, garanto, eles se encantam com a convivência com os de mesma espécie.

Qual o papel de uma escritor na sociedade?

Talvez essa minha resposta fale mais pela minha especificidade de cronista do que pelos escritores em geral, mas o escritor registra, descreve e constrói uma sociedade, seja pela realidade ou pela negação desta. Tem concorrência nesta função? Sim, tem jornalistas e historiadores, mas são olhares diferentes e que se complementam.

Qual o maior aliado de um escritor?

A imaginação e o desejo de não só imaginar.

Como encontrar a palavra certa, o termo justo, a frase ideal?

Eis a nossa caixa preta. As técnicas de escrita são para isso, para se chegar nessa construção que fará o seu texto. As técnicas aprendidas e pessoais são as que facilitam esse processo. Mas o ato em si de encontrá-las é o que não podemos explicar: o talento.

O quê que não dá para ser dito com palavras?

É possível dizer tudo usando palavras, mas, às vezes, é melhor não fazê-lo.

Se você pudesse, o que diria para o algoritmo?

A indiferença é mútua. Não teríamos o que dizer um ao outro.

E se você pudesse mudar o lema da bandeira nacional para um que representasse o Brasil atual, para qual seria?

Interpretação de texto & Saúde mental a todos.

Qual a melhor maneira de encarar a página em branco?

A página em branco não é um obstáculo, ela quer ser tatuada, está junta da gente nessa missão de transmitir uma mensagem. E se o pontapé inicial está empacado, deve-se focar menos no branco do papel e mais no breu interno; daqui vem a luz.

Qual a sua maior alegria ao escrever?

Ouvir que me leram, sem dúvida nenhuma. Essa sensação é a mais incrível, a que te faz se sentir recompensado. 

Se você não pudesse mais escrever, o que faria?

Transbordaria.

A literatura em uma palavra.

Palavra.

Qual a coisa mais importante que você aprendeu com a escrita?

A mais importante talvez seja que a minha opinião importa muito, mesmo não sendo a única que importa.

Qual sua definição de felicidade?

Talvez minha resposta pareça filosófica demais, diferente do que se espera para essa pergunta, mas, para mim, felicidade é a frequência de ocorrências de alegrias entre a regularidade da frieza. Quanto mais unidades de alegrias ocorrem, mais se forma uma rede que, em conjunto, formam a tal felicidade.

O que faz você continuar escrevendo?

Continuo escrevendo pela satisfação pessoal e coletiva. Ler outros escritores me fez escritor, assim como quem me lê me afirma e me confirma escritor. Deve ser por isso que tenho pavor de texto engavetado. Todo texto literário merece uma publicação, tanto quanto todo texto literário merece o trabalho estético, ético, sensível que o torne um texto bom e interessante para alguém.


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