Transformar a arte em trabalho | Entrevista com Wilson Júnior

Wilson Júnior (@wilsonjunior.escambau) é graduado em História pela UFC e pós-graduado em Escrita Literária pela FFB. Trabalha como escritor e professor de escrita. Fundador do Coletivo Escambau (@escambaueditora). Autor da ficção histórica 999.

Ele considera difícil usar as palavras boa e ruim para se referir à arte, pois “arte é experiência”. E para ele, na escrita, “não tem como acelerar e nem atrasar certos processos”.



O que a escrita causa em você?

Se a temática for divertida e aventureira, eu costumo rir sozinho enquanto escrevo. Porém, por alguma razão, minha escrita tende ao horror e drama, e o produto final sempre sai de maneira meio dolorosa e exaustiva. De modo geral, eu tenho ansiedade muito grande para começar, mas muito prazer durante o processo. Acho que no fim, a minha relação com a escrita é cheia de dicotomias e contradições.

Qual a maior aventura de um escritor?

Depende de que escritor você quer ser. Se sua finalidade é apenas escrever, acredito que a feitura do texto é a maior aventura. Porém, se você quer ser um autor profissional, a maior aventura é tentar transformar arte em trabalho no Brasil.

Que livro você gostaria de ter escrito?

O Velho e o Mar, de Ernest Hemmingway

Que livro você jamais escreveria?

Qualquer livro hot.

O que ainda falta ser dito em literatura?

Tudo e Nada. Tudo porque a maioria das vozes sequer tiveram espaço para serem ouvidas. Nada porque no fim das contas somos todos seres humanos e há muito tempo não há nada de novo sob o sol e nada de novo no front.

Livro bom é…

Aquele com o qual eu me conecto, que extrai de mim emoções, sentimentos, pensamentos. O que pode ser dito de qualquer livro. Acho difícil essa coisa de bom e ruim em arte. Arte é experiência.

Escritor é uma criatura…

Empática. Ou deveria ser, já que, acima de tudo, escrever ficção é um exercício de alteridade, sem empatia não há alteridade. 

Qual o papel de uma escritor na sociedade?

Acho que, assim como outros artistas, o escritor é um observador e comentador da realidade, de certa forma ele permite o ser humano a compreender a si mesmo melhor e absorver o mundo de uma maneira mais plena.

Qual o maior aliado de um escritor?

Paciência.

Como encontrar a palavra certa, o termo justo, a frase ideal?

Referência. Arte é cópia e re-cópia. A melhor forma de aprimorar um texto é tendo uma bela bagagem, então leia e assista tudo que puder, dando uma atenção especial à diversidade.

O quê que não dá para ser dito com palavras?

Todas coisas podem ser ditas. Mas no fim, precisamos compreender que as palavras são fantasmas, e por mais belas e bem construídas, sempre serão um reflexo pálido da realidade. Por isso, viva! 

Se você pudesse, o que diria para o algoritmo?

Queria que você me entendesse melhor.

E se você pudesse mudar o lema da bandeira nacional para um que representasse o Brasil atual, para qual seria?

Esperança.

Qual a melhor maneira de encarar a página em branco?

O infinito de possibilidades.

Qual a sua maior alegria ao escrever?

Pensar nas emoções de quem vai ler. Para mim, a literatura é uma arte que se completa no outro. Gostaria de devolver um pouco pro mundo tudo que pude sentir e aprender quando eu era o expectador.

Se você não pudesse mais escrever, o que faria?

Certamente alguma outra forma de arte. Acho que a expressão e a atenção, são coisas das quais sou muito carente.

A literatura em uma palavra.

Dicotomia.

Qual a coisa mais importante que você aprendeu com a escrita?

Que o tempo é presente, opressor, e não tem como acelerar e nem atrasar certos processos.

Qual sua definição de felicidade?

Estar em paz com o que se é, e o que se tem.

O que faz você continuar escrevendo?

Sempre me considerei uma pessoa mediana, e isso sempre me bastou. A escrita foi o único lugar onde ser mediano não era suficiente para mim e isso me mantém em um permanente estado de busca, o que por si só é um processo dolorido, mas viver dói, não é mesmo?


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