Contra a repetição | Entrevista com Júlio César Bernardes

JÚLIO CÉSAR BERNARDES (@jcbernardess) nasceu em 1993, em Jacareí-SP, e mora há dez anos em São Paulo. É formado em Relações Internacionais e em Linguística e é mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Participou da Antologia Poética LiteraturaBr, tem contos publicados em revistas digitais e foi finalista do prêmio Nascente, promovido pela USP. Em 2022, publicou o livro de contos Onde as Verdades Nascem pela Editora Patuá.

Para Júlio, o escritor tem uma clara vocação de ser muitos. E segundo ele, “a vontade de dizer algo ainda não é algo a ser dito.



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O que a escrita causa em você?

Ansiedade enquanto não termino um projeto, e satisfação quando me livro dele. Como de cada trabalho nascem mais ideias, é mais ou menos como querer exorcizar todos os demônios do inferno e encontrar nisso algum prazer.

Qual a maior aventura de um escritor?

Tentar ser um só, apesar de uma vocação claramente contrária, e ao mesmo tempo não se repetir. 

Que livro você gostaria de ter escrito?

Os mais recentes foram “Canto eu e a Montanha Dança”, “A Jangada de Pedra” e “Meridiano de Sangue”. São livros que me fizeram pensar: então também isso pode ser a literatura.  

Que livro você jamais escreveria?

Qualquer um que se pareça com outro que conheço. É muito triste, ainda no meio de um livro, ser atravessado pela certeza de que você já o leu. 

O que ainda falta ser dito em literatura?

Cada vez mais, e a conta me parece simples: se criamos a partir do que existe, a cada criação, inclusive literária, mais há para ser criado: o destino da torre de Babel é a biblioteca de Borges. Por isso me indigno com repetições.

Livro bom é…

uma assinatura entalhada no tempo. 

Escritor é uma criatura…

amaldiçoada a recusar e a perseguir a perfeição. 

Qual o papel de um escritor na sociedade?

Não acho que exista um só; dito isto, qualquer pessoa que tem voz e não a usa é no mínimo uma irresponsável. 

Qual o maior aliado de um escritor?

A insatisfação. A ideia de um Deus perfeito implica que Ele jamais daria um bom escritor.

Como encontrar a palavra certa, o termo justo, a frase ideal?

É preciso esperar, testar, reescrever, testar de novo e repetir o processo algumas vezes. Sua-se muito. A parte mais difícil, porém, é que em algum momento será preciso desistir. 

O quê que não dá para ser dito com palavras?

O nome do que não foi nomeado. Para todo o resto há mentira e imaginação. 

Se você pudesse, o que diria para o algoritmo?

Eu já disse, mais de uma vez: “escreva algo que seja diferente de tudo o que já foi escrito”. Depois de algumas tentativas, sempre dá erro. 

E se você pudesse mudar o lema da bandeira nacional para um que representasse o Brasil atual, para qual seria?

Esperança com Parcimônia. 

Qual a melhor maneira de encarar a página em branco?

Respeitando-a. Nem todo som é melhor que o silêncio, e a vontade de dizer algo ainda não é algo a ser dito.

Qual a sua maior alegria ao escrever?

Acabar. 

Se você não pudesse mais escrever, o que faria?

Desenharia.

A literatura em uma palavra.

Trabalho.

Qual a coisa mais importante que você aprendeu com a escrita?

Equilibrar humildade e arrogância. Pensar “eu poderia fazer melhor” é tão importante quanto pensar “eu ainda não consigo fazer melhor”.

Qual sua definição de felicidade?

Um cometa que risca o céu de tempos em tempos para me lembrar que está lá. Qualquer frequência superior a essa certamente me atrapalharia, talvez até mesmo me fizesse infeliz.

O que faz você continuar escrevendo?

Quando escrevo é quando existo como acho que eu deveria existir, é onde a vida me é possível como eu a desejo. 

| Entrevista organizada ao som do disco Con todo el mundo, de Khruangbin |


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