Região fantástica | Entrevista com Jadna Alana

Foto: Divulgação

Que nosso país seja “abençoado por Deus e bonito por natureza” todo mundo já sabe. O que pouca gente percebe é o quanto ele pode ser mágico e fantástico. A escritora convidada de hoje é uma dessas poucas pessoas que reconhecem o poder e a beleza da magia, da fantasia e da imaginação. Jadna Alana resolveu mostrar, no seus livros, que as terras brasileiras são um solo fértil para o fantástico.

No seu livro de contos Quintal fantástico (Izyncor, 2023), Jadna Alana recupera e renova várias criaturas do nosso folclore, abordando cada uma das cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Na nossa conversa, falamos sobre regionalismo fantástico, linguagem literária, pesquisa para escrever, novos livros da Jadna e muito mais. Vele muito ler até o final.



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O uso da linguagem coloquial se destaca na sua escrita, tanto no romance Se tu me quisesse quanto no livro de contos Quintal fantástico. Como você constrói essa linguagem para as suas histórias?

É muito doido, porque essa é uma pergunta muito comum de escritores, escritores mesmo, né? A gente sabe que infelizmente a literatura regionalista tem um passado que a crítica condenou muito. De fato, no começo do primeiro período em que o regionalismo surge na literatura brasileira, há um excesso nesses coloquialismos. Com uma necessidade muito grande de tornar esses personagens muito verossímeis, muito reais. Trazer essa semelhança com a vida real, mas acabava que muitos escritores caíam nesse erro.

Muitas pessoas às vezes me procuram para fazer trabalho no texto delas. E eu percebo muito isso dos autores jovens mesmo: exagerarem, colocarem o uso das palavras da gramática errado. Traz nesse ar matuto, e foi justamente isso que por muito tempo perseguiu a literatura regionalista de um jeito negativo, porque isso acaba estereotipando o personagem, isso acaba estereotipando uma cultura, soando até xenofóbico. Então eu sigo muito toda uma outra vertente do regionalismo, que eu acredito muito e defendo, que acredita que a gente pode ser regionalista, que a gente pode ser coloquial, que a gente pode trazer esse ritmo para a fala e para os diálogos e para a linguagem de um jeito correto ainda, gramaticalmente correto.

Quem fala muito sobre isso é Ariano Suassuna, ele tem uma citação muito interessante, que ele vai falar sobre isso, que a gente pode sim ser regional e ainda sim estar dentro da norma. E ele também vai falar muito sobre algo que eu acredito para a arte num geral, que é: a gente pode ser clássico mesmo sendo popular. E eu acredito muito nessa filosofia dele, carrego isso junto do regionalismo fantástico, que é um gênero que eu procuro cada vez mais promover.

E basicamente acho que a maior técnica que eu utilizo nos meus diálogos, nessas narrativas mais coloquiais, etc., é o uso do ritmo. Eu acho que a gente consegue trazer um gingado pra fala, tornar ela muito coloquial, sem necessariamente a gente usar palavras muito caricatas, sem necessariamente a gente transfigurar essas palavras de um jeito errado gramaticalmente, que soe matuto demais. Então a gente pode trazer esse coloquial de um jeito poético, de um jeito livre, de um jeito que a linguagem, na verdade, em vez de ser trazida como caricata, ela brilha, ela chama a atenção, ela é compatível com o nosso ouvido porque ela é cantada. Compatível com o nosso dia a dia, porque aquilo que a gente fala, a gente tem a língua da norma, que a gente usa de forma formal, mas a verdade é que a língua que a gente se utiliza é essa língua coloquial todos os dias, ela é a nossa ponte de comunicação, então eu acredito mais que a linguagem regionalista cativa e ela faz com que o leitor se sinta representado, que ele olhe para aquilo e fale “caramba, meu gingado, meu sotaque sendo evidenciado, ganhando representatividade”, ainda mais quando a gente fala de um sotaque nordestino, que infelizmente sofre até hoje muito com xenofobia no Brasil. 

No prefácio de Quintal fantástico, o escritor e professor Anacã Agra escreve que “É na linguagem que se firma o regional, mais ainda do que no espaço, pelo menos no que diz respeito a ser literário”. Fala sobre o que levou você a trabalhar com o regionalismo no seus livros.

Que loucura, eu adoro essa citação, mas eu digo loucura porque acho que nunca ninguém me perguntou isso, de onde vem. Sinceramente, eu fico tentando procurar também a resposta, porque não foi sempre assim. Eu comecei a escrever muito baseada nessa literatura norte-americana e europeia, esses clássicos fantásticos e tudo mais, justamente por essa falta de referência aqui, de uma literatura fantástica brasileira, etc., que não seja somente essa cópia dessa literatura importada. E quando eu estava finalizando a minha graduação em Letras, o professor Anacã, que foi meu orientador, ele trouxe essa provocação, ele brincou assim, porque você não escreve um livro fantástico no Brasil, aqui na Paraíba, no Nordeste. Eu fiquei, ah, não, quem é que vai ler isso? Tipo, não é comum, né? As pessoas estão lendo mais da Sandra Clare, Rowling, Sarah J. Maas. E, por consequência, eu queria escrever semelhante a elas. Mas, confesso que isso não saiu da minha cabeça.

E eu comecei esse trabalho, assim, inconscientemente. As personagens começaram a se criar na minha cabeça. Foi assim que nasceu o Riacho do Girimum, que foi esse romance que eu trabalhei, inclusive, no meu TCC. E eu acho que esse processo me conectou com a minha cultura. Antes disso, eu não era tão conectada ao Nordeste.  Mas, para escrever o livro, eu passei a prestar muita atenção nesses elementos à minha volta. A fogueira de São João, o significado dela, o cuscuz, que é uma comida que por muito tempo foi muito marginalizada, né? Uma comida de fácil acesso por ser muito barata, então já ligada ao pobre, o sertanejo e tudo mais. E eu comecei a sentir que essa escrita regional tinha um caráter político. Eu não sou uma pessoa tão engajada em debates políticos cotidianamente, mas eu tenho muitos princípios de ideais.

E essa questão de trazer a representatividade nordestina sempre esteve em mim, mesmo sem eu perceber. Então, quando eu me dou conta disso com o processo desse romance, que foi instigado aí pelo professor Anacã, eu comecei a perceber que sempre esteve lá essa essência, essa vontade, esse desejo, e aí a minha escrita ganha um papel que, para mim, eu falo que é um legado, um ideal, um objetivo de trazer essa representatividade para a literatura fantástica, mostrar que o mágico está bem no nosso quintal, a gente só precisa abrir a porta e logo ali a gente vai ter acesso a essa magia. Essa magia não precisa atravessar um mundo, né? Ir para os Estados Unidos e para a Europa, ir para a França, para a Itália, para Paris, para a gente encontrar o Fantástico, pode ter um duende pendurado num galho de cajueiro no quintal da minha casa no interior da Paraíba, e isso acende em mim esse propósito de trazer referências para os jovens brasileiros, de que outras pessoas pudessem falar, “ah, eu escrevo Fantástico e eu quero escrever igual essa pessoa que traz essa representatividade mágica nordestina, e não necessariamente essa pessoa que está lá do outro lado do mundo escrevendo um Fantástico que eu nem consigo me identificar tanto assim.ir

Então, é a parte disso que nasce o meu interesse pelo regional, pela cultura local, pela cultura de margem, para trazer representatividade mesmo. No final das contas, o que tem por trás disso é um ideal político mesmo, sabe? Pela política cultural.

Inclusive, você pesquisa, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) a relação entre o fantástico e o regionalismo, sendo já conhecida quando o assunto é regionalismo fantástico. O que você estuda especificamente? E o que você já descobriu com essa pesquisa?

Então, eu realmente estudo a construção do gênero. Infelizmente, não do jeito que eu gostaria, porque no mestrado a gente precisa fazer um recorte. E o que eu pretendia mesmo com o estudo seria um projeto mais para doutorado. Então, a gente acabou fazendo o recorte da construção, literalmente o título é esse: A construção da literatura regionalista fantástica na obra O auto da Maga Josefa, da escritora Paola Siviero, que é um livro que conta a história de um caçador de demônios, o Toninho.

Ele é herdeiro de uma adaga mágica, que é passada de caçador em caçador, né, o pai dele passou pra ele. O pai e a mãe dele são os caçadores de demônios mais conhecidos do sertão paraibano. E aí o Toninho, ele passa, então, a seguir essa jornada até encontrar a Maga Josefa, que é uma maga mesmo, de nascença já inimiga dele, porque ela é uma maga, e o Toninho despacha para o inferno magos, bruxos, feiticeiros, vampiros, chupa-cabras, etc. Tudo que for criatura mágica que atenta o povo no interior do Nordeste, assombrações, ele está lá, indo atrás, caçando para despachar de volta para o inferno. Porém, nesse embate dele com a Maga Josefa, ela fala que ela também faz isso.

Ele acha estranho, mas ela tenta convencer ele de que, na verdade, eles podem unir forças para caçar essas criaturas. Ela tem um objetivo por trás disso, mas em nenhum momento é revelado até o final. A gente fica com esse mistério. E eles fazem um pacto de cuspe, que é muito divertido, assim, porque geralmente a gente conhece o pacto de sangue. E aí, na minha dissertação, eu estudo esse fenômeno, de como se constrói o regionalismo fantástico na literatura brasileira. Não é uma pesquisa tão histórica. É uma pesquisa muito mais de características mesmo, como o gênero se configura, como ele se caracteriza, como ele é comum, por que ele contribui para a literatura brasileira, etc.

E aí eu faço essa contextualização da literatura regionalista no Brasil, como ela surge, devonde ela vem, qual que é esse passado e esse presente do regional, o que marca e o que não marca ele. E depois, na segunda parte da pesquisa, eu faço também esse apanhado com o Fantástico, como o Fantástico se dá no Brasil. Qual é a diferença do regionalismo fantástico para o realismo mágico? Que tem aí uma semelhança, embora sejam diferentes. E aí faço a análise do livro posteriormente. E isso eu estou falando para você o que vai ser, né? Porque eu ainda estou só no primeiro capítulo, que eu acabei de qualificar e devo defender no início de 2025.

E aí a parte final da dissertação vai ser justamente essa análise, observando esses pontos, essas características da literatura regionalista fantástica. Ela não nasce através dessa pesquisa, no sentido literário, porque a literatura regionalista fantástica existe no Brasil há muitos anos. Se a gente pegar A Rainha do Ignoto, que foi uma das primeiras fantasias publicadas no Brasil por uma mulher, ele já tem a marca do regionalismo fantástico. Se a gente pega Monteiro Lobato… Então, realmente, é um gênero que não foi nomeado por muito tempo, mas que sempre existiu. O que eu tenho feito na pesquisa é dar esse nome, mostrar que existe e configurar, fazer todo um conceito teórico pelo menos formal, porque dentro da academia não existe. E aí entra todo um debate do que é estudado na academia, a gente sabe que infelizmente o que é aceito pela crítica é o clássico, mas em paralelo ao clássico existe toda uma literatura acontecendo que muitas vezes não é registrada, não é oficializada, não é aceita dentro da academia.

Obviamente eu encaro algumas barreiras, algumas pessoas que não concordam com essa produção, com essa temática, com esse estudo, mas acho que é isso, acho que se a gente não bate de frente, a gente não luta contra esse sistema, e a literatura regionalista fantástica existe. Então, basicamente é isso, existe o ineditismo de estar criando a teoria, mas a literatura já existe há muito tempo, só não estava nos manuais ainda.

Outro traço marcante nos seus livros é o espaço dado à imaginação. Como você enxerga a relação entre a pesquisa racional e a imaginação criadora? Como a Jadna escritora e pesquisadora convivem?

Eu diria que até muito bem, porque, não sei se é meio louco, mas eu escrevo muito a partir da teoria. Quase todos os meus livros nasceram depois de uma aula. Eu tenho muito insight quando eu estou estudando, principalmente quando é uma temática que eu gosto. Por exemplo, eu tenho um conto que vai falar sobre a temática do lixo e da reciclagem. E ele é baseado na pesquisa de uma teórica chamada Aleida Assmann, que trabalha memória coletiva, memória cultural. E tem um capítulo que eu estudei de um texto dela sobre a memória coletiva, que ela vai falar sobre o lixo e a relação dele com a arte, como se reconfigura a arte a partir do lixo, o lixo a partir da arte, qual que é esse limiar, etc.

E eu estudei esse texto para a minha prova de mestrado da UFOP. Então, eu fiquei vários dias com essa teoria na cabeça e a teoria me inquieta tanto que ela se transforma em texto literário, numa expressão literária. Então, por exemplo, Um instante d`ocê, que é meu novo romance, que vai ser lançado agora nos próximos dias e na Bienal [Internacional do Livro de São Paulo]. Esse título nasce, a ideia dele nasce a partir de uma citação do Borges, que ele vai falar sobre ele existir, existir apenas um instante dele no outro. E aí eu entrei numa nóia sobre a teoria da morte do autor, e aí comecei a criar toda uma narrativa que vai fazer essa exploração da construção artística, é uma metáfora da produção artística, é uma pintora protagonista, e ela começa a pintar um quadro.

- Tu tá pensando no quê, meu neto?
- Uai, vô, achei que lobisomem eram sempre homem
O velho caiu na gaitada.
- Ocê tem tanta coisa pra descobrir ainda, menino. Esse mundaréu de meu Deus é misterioso por demais.
"

Trecho do conto "O uivo da montanha", em Quintal fantástico

E a partir dele ela começa a se apaixonar, aquele momento de enlace entre a obra e a arte. Só que aí no livro realmente a mulher do quadro sai do quadro, elas têm um relacionamento e tudo mais. Até o momento final é que ela percebe que ela precisa deixar que a arte volte para o quadro, que a arte volte para onde ela deveria ser e para onde ela deveria se destinar, que seria o mundo. E depois dessa entrega ao mundo, essa autora morreria. Só que aí eu vou trabalhando essas alegorias todas muito reais no livro, né? Então, eu trabalho a questão da eternidade. Enfim, tudo isso a partir dessa teoria da morte do autor. Então, eu me relaciono até bem demais. Às vezes eu gostaria até que se prendesse menos, mas eu tenho muito isso, eu tô estudando e eu tô fabulando ao mesmo tempo. Eu não consigo não associar uma coisa com a outra.

Nos contos de Quintal fantástico, as crianças são muito presentes. Elas ouvem, contam ou vivem as histórias. Por que a escolha por crianças para essas “contações folclóricas”, como diz o subtítulo do livro?

Então, esse livro tem uma parte muito… Não sei se eu posso dizer autobiográfico, mas nasceu dessa vivência real. Meu avô era um grande contador de histórias, eu era muito criancinha. Sempre que me perguntam quando eu comecei a escrever, eu não falo que existiu um momento que eu comecei a escrever, mas existiu um momento que eu comecei a criar. Porque bem antes de eu saber ler, eu já era muito criativa. E com o tempo, depois de escrever meus romances regionalistas, eu cheguei a conclusão que isso veio, a fonte disso foi o meu avô, que foi um grande contador de histórias. Ele sabia todas as histórias decoradas.

Ele não sabia ler, ele não sabia escrever, ele não sabia assinar o nome dele, tudo era na digital. E eu também não sabia ler e não sabia escrever porque eu era uma criança. Então existia ali um contraponto muito louco, assim, dele na velhice, muito velhinho já, com essa realidade, e eu também. Mas os dois ainda criando, os dois ainda se entendendo num mundo imaginário, independente da linguagem da escrita. Mas utilizando outras linguagens.

Então, nasceu primeiro desse ritual que acontecia dele sentado na rede, assim, no fim de tarde, eu com ele se balançando e ele me contando as histórias, ele sabia o tom, a cadência, o ritmo, ele fazia uma performance contando a história, cada personagem ele usava um tom. Infelizmente ele partiu antes de eu começar a escrever, então nunca pude contar pra ele que eu sou escritora. Eu quis meio que mostrar essa questão das gerações. Por isso que os mais velhos estavam sempre presentes nessas histórias, assim como os mais novos. E como o livro, eles são recontos, eu recrio as contações folclóricas, também tem essa simbologia dessa nova versão, dessas narrativas, com essa nova geração.

Eu tenho muito desejo que as crianças consigam ler esse livro e ter percepções diferentes do homem do saco, não necessariamente ele precisa ser ruim, às vezes ele é só um doente com fome. Da mula sem cabeça como padre que é o verdadeiro culpado daquela traição a Deus, e não a mulher, porque esses contos, no final das contas, têm lições de morais que se adaptavam à época, então minha vontade com o Quintal Fantástico era fazer o contrário, mudar essa realidade, então tirar esse fardo da mulher. A Cuca também, como em vez de ser essa visão da mulher má, sendo essa visão da mulher livre. E aí é isso, eu acho que o livro é como se fosse também essa versão dos mais novos para os mais velhos, dos mais velhos para os mais novos, uma coisa meio cíclica. Não sei explicar. As viagens de escritor, né? É tudo doido.

Além dos livros, você também conta histórias no Instagram, com seus vídeos e conteúdos. Como é sua rotina usando as redes sociais?

Caótica. Eu não gosto das redes sociais. É muito estranho, porque sempre que eu falo isso, quem me acompanha fica, “ué, mas você faz tão bem, não sei o quê. Faço porque eu acho que é uma manifestação artística também. Então, tem muito de mim. Eu gosto de gravar, eu gosto de editar, eu gosto de filmar, eu gosto de pensar nos formatos, eu gosto de tudo isso.

Eu não gosto da frequência com que a internet me exige, né? Então aparecer uma vez no mês, com um vídeo legal, que massa. Mas não é assim, né? A rede social exige que a gente poste frequentemente para ser lembrado. E, no final das contas, é por isso que a gente posta, porque a gente quer ser lembrado. Quer que os nossos livros vendam, que a gente seja reconhecido, as obras também. Que a gente tenha oportunidades de fala, de espaço no mercado e tal. Então isso não é uma rotina muito fácil, não.

Geralmente, eu tiro uma manhã, uma manhã ou uma tarde, para gravar tudo de uma vez. É muito raro eu gravar um vídeo, assim, picado. Tipo, ah, hoje eu acordei com vontade de gravar um vídeo. Eu nunca faço isso, porque eu sempre sinto que eu estou perdendo muito tempo da minha vida. E eu tenho muita coisa para fazer do trabalho, da escrita, do mestrado. Então, eu não posso perder muito tempo com isso. Então, geralmente é assim. Eu pego um sábado de manhã, sei lá, gravo 10, 20 vídeos principalmente pro Instagram da minha marca editorial, da ALCE realmente é assim, a gente faz os vídeos, gravo num dia pro mês inteiro. Já pro meu Instagram, não consigo fazer com essa frequência porque eu faço tudo sozinha e na ALCE eu tenho o auxílio da minha sócia, então a gente tem um esquema ela faz os roteiros, eu faço as edições, então o trabalho fica mais distribuído, mas no meu eu tenho que fazer roteiro sozinha, eu tenho que fazer edição sozinha… Então não é uma relação muito boa, não. Os stories é que são mais orgânicos. Eu nunca posto story que não é do dia. É muito raro postar uma coisa que eu gravei antes e tal.

Porque eu acho que tem que ser mais fluido mesmo. Agora o feed é tormento. Antigamente eu era mais engajada. Mas aí eu fiquei com vários problemas. Depressão e ansiedade. Passei quase um ano sem aparecer nas redes sociais. Eu tinha 40 mil seguidores, quase 45 mil seguidores, Hoje em dia eu tenho 26 [mil]. Justamente por essa baixa que teve, de eu ter parado de criar conteúdo. Nessa época, meus vídeos tinham 300 mil, 600 mil visualizações. Nunca cheguei a um milhão, mas cheguei muito perto várias vezes. Isso no passado, né? Hoje em dia, realmente, sou mais flopadinha. Eu escolhi a minha saúde mental mesmo.

O seu romance Se tu me quisesse foi finalista do Prêmio Kindle de Literatura e do Prêmio Odisseia da Literatura Fantástica. E você também foi selecionada para o Prêmio Carolina Maria de Jesus com o livro Barquinho de papel. Desde quando você quis ser escritora? E qual o valor desse reconhecimento do seu trabalho?

Nossa, isso é muito difícil de datar, porque ser escritora não foi um sonho de criança. Meu sonho de criança, e eu consegui estender até o final do ensino médio, era ser cantora. Eu sempre quis trabalhar com arte. Acho que o meu lado criativo sempre existiu em mim. Mas existiam muitas pessoas que falavam que trabalhar como cantor não dava dinheiro, não dava reconhecimento. Você ia viver debaixo da ponte, né? Uma coisa meio dramática, exagerada. E eu era muito nova e acabei acreditando. Meio que abandonei a ideia.

E aí, posteriormente, no final do ensino médio, eu tentei cursar filosofia. Não deu também. Mas eu sempre fui leitora, independente de querer escrever ou não. Acho que eu falo com muita convicção que eu sempre fui leitora, desde que eu aprendi a ler. E antes disso eu já era consumidora de histórias, então lembro do primeiro livro que eu li de romance mesmo, assim, grande, e era uma fantasia, inclusive. Então sempre fui leitora. E aí nesse limbo que eu passei, eu cheguei a passar pra filosofia na UFPB [em João Pessoa] na época, mas minha família não tinha condições de me ajudar a me manter em outra cidade maior [Jadna é de Campina Grande]. E aí acabei não ingressando. Eu fiquei em casa e depois fui trabalhar numa lojinha de celular. E aí nessa lojinha de celular, eu ficava lendo quando eu não tinha nada pra trabalhar, né? Então foi a época que eu lia a Sandra Clare, que eu lia os Instrumentos Mortais.

E eu fiquei com essa inquietação. Eu terminei a série que eu não tinha gostado do final, e queria criar a minha própria história. Aquelas, né? Iludida. Mas foi assim que aconteceu, de fato. Eu escrevi muito por um passatempo, um período que eu não estava estudando, um período que eu só estava trabalhando, um período que eu precisava muito da imaginação. E mesmo tendo escrito esse primeiro livro, eu acho que eu ainda não tinha essa percepção de que eu queria ser escritora. Mas, por causa dele, eu entrei no curso de Letras e eu acho que o querer ser escritora em mim foi existindo aos poucos. Hoje existe fortemente por esse querer muito… grandioso de querer que as histórias se mantenham, que o imaginário exista, que a minha narrativa consiga alcançar outras pessoas, trazer alguma mensagem.

Para mim é uma forma de existir muito bonita e que me faz ver um sentido na vida, porque eu sou uma pessoa muito dos símbolos, eu fico procurando símbolo em tudo, tipo por que eu existo?, por que eu estou aqui? Eu acho que se não existisse a literatura na minha vida, eu não teria muito uma razão, eu acho, não teria muito sentido. E aí eu acho que foi isso. Eu não consigo datar quando eu quis ser escritora, porque foi acontecendo de uma forma muito natural. Mas hoje eu super me sinto escritora e quero me sentir cada vez mais.

O que você pode já falar sobre esse novo livro, Barquinho de papel?

Eu posso sim falar um pouquinho. Ele é um livro que eu não tenho ideia ainda do que vai ser feito com ele, porque existe aí uma editora interessada e tudo mais, só que não é uma publicação do que vai ser para agora. Então, é um livro ainda que está paradinho, talvez eu coloque ele em mais editais, em mais premiações.

Mas até agora não temos nenhuma previsão para lançamento. Então acredito que seja tranquilo falar. Ele conta a história da Jurema, que é uma menina que mora numa praia no interior da Bahia. E ela é muito espevitada, o sonho dela é conhecer o que tem além do mar. E aí ela começa a construir literalmente um barraquinho de papel. Ela começa a catar os restos de material de papel que ela encontra no lixo e ela começa a reciclar esse papel pra construção desse barquinho.

Obviamente é uma obra regionalista fantástica, então dentro desse universo isso é possível, mas ela é frustrada, todas as tentativas que ela tenta dá errado, o mar engole o barquinho, ela tem vários diálogos com a Iemanjá, ela fica tipo, mas por que você tá fazendo isso? Então tem toda uma presença também dessa questão dos orixás e tudo mais. Ao mesmo tempo em que ela é mega amiga do padre da igrejinha próxima. Isso é muito engraçado. Então eles têm uma relação muito divertida. Aqueles diálogos regionalistas que a gente conhece de Se tu me quisesse são bem presentes em Barquinho [de papel] também.

E é isso. Ela acaba conhecendo uma sereia que vai lá intervir nessas andanças da Jurema e tudo mais. E aí cria-se uma relação entre ela e essa sereia também. Até ela conseguir aí talvez descobrir o mistério de como ela concluiu o barquinho. É uma história bem simples, é uma noveleta bem pequenininha, igual o Se tu me quisesse. Eu acho que é isso sobre a história.

| Entrevista organizada ao som do disco A tempestade, da Legião Urbana |


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