Escrever apesar de tudo | Entrevista com Hermes de Sousa Veras

Hermes de Sousa Veras é antropólogo e escritor. Gosta de praticar os gêneros considerados menores: conto (e microconto), crônica e poesia. Nasceu em Fortaleza, CE, onde se formou em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Por conta dos estudos, se mudou para o Pará e já morou em diversos lugares, como Ananindeua, Belém, Pirabas e Porto Alegre. Atualmente mora em Teresina, onde é professor temporário na Universidade Estadual do Piauí. Estuda religiões de matriz africana e encantaria no Pará, tendo publicado o livro de não-cção “O sacerdote e o aprendiz: antropologia de um terreiro amazônico” (Letramento, 2021). Em 2021, estreiou na poesia com o livro “Formas Veladas” (Escaleras, 2021). Em 2022, publicou o conto de literatura fantástica “O cheiro de café pela manhã” na revista Escambanáutica e uma crônica na Revista Palavra do Sesc.


Escreve a newsletter de crônicas, um mensageiro:
https://tinyletter.com/hermesveras/


Publica microcontos no perl de instagram “Eita! Nem viu”:
https://www.instagram.com/viu.eitanem/


E é poeta no portal de poesia contemporânea Fazia Poesia:
http://faziapoesia.com.br/.


Seus livros podem ser comprados com o autor, ou no site das editoras e/ou
distribuidoras.


E-mail: hermesociais@gmail.com
Instagram: @hermesveras

Para ele, os boletos pagos estão entre os maiores aliados que um escritor pode ter. E é preciso, segundo ele, “reconhecer a literatura em muitas vozes e expressões” porque “ela está para além do cânone e dos livros.”



O que a escrita causa em você?

Estranheza. Uma ruptura entre o fora e o dentro. Aliás, fico sem pele, algo sem forma com fluidez e flexibilidade. 

Qual a maior aventura de um escritor?

Escrever. Na maior parte do tempo estamos em outros trabalhos, que podem ou não ter a ver com o mundo da literatura e dos livros, realizando nossos afazeres e tentando sobreviver. Escrever é sempre a maior aventura.

Que livro você gostaria de ter escrito?

A hora dos ruminantes, José J. Veiga.

Que livro você jamais escreveria?

Um livro sagrado, principalmente a Bíblia.

O que ainda falta ser dito em literatura?

Tem um abismo que nunca será transposto. Sempre estaremos aquém. Absolutamente tudo falta ser dito e redito. E para tal, a literatura tem que ser democratizada, uma tarefa de muitas gentes. Precisamos reconhecer a literatura em muitas vozes e expressões, ela está para além do cânone e dos livros.

Livro bom é…

como uma fruta com gosto marcante: caju, cajá, cupuaçu, bacuri. Mesmo depois de comida, fica com a gente.

Escritor é uma criatura…

atormentada, inquieta, perturbada e alegre.

Qual o papel de um escritor na sociedade?

Em uma sociedade como a nossa, é lutar pelo acesso aos livros, por bibliotecas comunitárias e públicas. Transformar a leitura, a escrita e o livros em atividade corriqueira, tirar todo o peso elitista e mofado que o nosso mundo tem.

Qual o maior aliado de um escritor?

A paciência, o tempo e os boletos pagos.

Como encontrar a palavra certa, o termo justo, a frase ideal?

Não faço a mínima ideia. É essa busca que move.

O quê que não dá para ser dito com palavras?

Tudo. E isso é a literatura. Tentar expressar, apesar de tudo, dos abismos, das impossibilidades. Nada foi feito para ser palavra. Nós é que criamos, moldamos, tentamos. Sempre terá essa tensão, e é isso que nos faz escrever. Ainda tem o pequeno grande detalhe que escrevemos na língua de quem nos dominou. Corromper essa língua é fundamental.

Se você pudesse, o que diria para o algoritmo?

Seja menos algo e mais ritmo.

E se você pudesse mudar o lema da bandeira nacional para um que representasse o Brasil atual, para qual seria?

Retiraria o lema e mergulharia a bandeira em vermelho para lembrarmos que somos fruto da violência e do sangue derramado. Sem esse choque, jamais seremos um país.

Qual a sua maior alegria ao escrever?

É encontrar o fluxo que me deixa ligado ao teclado, ao texto, mergulhado na palavra, na narrativa e nas personagens.

Se você não pudesse mais escrever, o que faria?

Leria. E aí escreveria de algum jeito.

A literatura em uma palavra.

Rede.

Qual a coisa mais importante que você aprendeu com a escrita?

Nunca se está só.

O que faz você continuar escrevendo?

A vida.


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